terça-feira, setembro 12, 2006

Contra o que, cara pálida?

Quinta-Feira, comemorei o feriado. Existir um feriado ainda me lembra que sou independente da empresa em que trabalho, de vez em quando. E isso é motivo de comemoração. Só. Sem história.

Dia da independência. Bobagem. Não existe independência absoluta. Todos somos dependentes em maior ou menor grau de algo ou alguém. Isso é normal. Aliás, é o que amalgama sociedades civis, religiosas, militares, industriais, amorosas...

Somos todos dependentes de algo ou de alguém e isso é bom para as sociedades, desde que dentro dos limites da normalidade.

O problema está em usar essa dependência para entregar ao outro a responsabilidade sobre as coisas. Aí está o problema do brasileiro cidadão, do brasileiro eleitor, do brasileiro indivíduo coletivo. A alienação e a escravidão são derivações dessa doença social.

Sete de setembro, comemorar o quê? Ora, a independência do Brasil com relação ao governo português. Só isso. Ponto final.

Se quiséssemos comemorar mais, teríamos de conquistar novas independências com relação a outros opressores. Se não temos o que comemorar, responsabilidade nossa, aliás, irresponsabilidade nossa.

Quem não acrescenta novas conquistas ao seu dia-a-dia tem mesmo de viver celebrando conquistas do passado, amargamente.

Mitos, aliás, sobrevivem às custas de novas conquistas que não vingaram.

Se, quinta-feira, a maioria houvesse preferido marchar em protesto contra uma questão opressora comum, em vez de acenar bandeirinhas em desfiles, de ir à praia, de fazer churrasquinhos, ou de lagartear ao Sol sem-que-nem-porque, capaz de haver, no ano que vem, um novo 7 de Setembro a celebrar. Mas não haverá. Não existe a questão opressora comum e, houvesse, faltaria uma liderança honrada.

Até porque, os poucos que, quinta-feira, mobilizaram-se com essa idéia o fizeram a partir de questões umbilicais, com discursos pequeninos, que só mesmo outros poucos dependentes dos mesmos temas enfrentaram o frio e a preguiça para acompanhar - sem falar nos que acompanharam para filar o churrasquinho, claro...

A pergunta que fica: não há mais uma questão nacional da qual sejamos todos igualmente dependentes e contra a qual nos mobilizaríamos a despeito de nossa própria comodidade vagabunda?

(Lembrete: a última "questão nacional" era um problema dos congressistas - afastar Collor. Quando esse embuste ficou claro à maioria, ninguém nunca mais resolveu cair em outro engodo igual.)