sexta-feira, janeiro 05, 2007

Entra ano, sai ano...

Eu continuo tentando descobrir como é possível alguém querer, ao mesmo tempo, proibir o comércio, punir o comerciante e eximir o consumidor da responsabilidade.

Se o traficante é um bandido, como é que aquele que o financia pode ser uma vítima? Se a prostituta é sem vergonha, seu cliente é o quê? Se o guarda-de-trânsito é corrupto, quem comete a infração e lhe oferece dinheiro é coitadinho? Se o fiscal tem o poder de punir, mas, em vez disso, oferece uma alternativa pouco honesta, aquele que já estava errado quando foi flagrado e ainda concorda com a oferta é santo?

Alguém trocou as velhas correntes que dividiam o certo e o errado por cordões de elástico, moderninhas, certamente, mais simpáticas, claro.

Daí vem esse mundo em que você tem de brigar por vinte anos para conseguir uma indenização na justiça, quando alguém viola um de seus direitos verdadeiros - nem digo mais legítimos, posto que há tanta gente legislando em causa própria que toda legitimidade pode, repentinamente, ser questionada pelo seu que de malandragem -, enquanto um criminoso notório pode alcançar os benefícios da Lei e sair da cadeia com dois terços da pena de antecedência. Tudo ao avesso.

O mundo é o espelho da gente. Governo, Justiça, Saúde... tudo: reflexo do caráter que se tem. Por isso é tudo corrupção.

Numa terra em que entre os mais pobres há quem seja contra leis mais firmes porque de antemão assume que somente os pobres serão punidos, sempre haverá o mais rico espertalhão para abrandá-las por ele, por si e contra todos; numa terra em que entre os menos cultos há uns contrários às regras mais rígidas porque de antemão afirmam que principalmente os incultos serão prejudicados, sempre existirão os espertalhões mais cultos para afrouxá-las por eles, por si e contra todos; nessa terra em que os sem-isso e os sem-aquilo são tantos que conquistam privilégios, benefícios e direitos, quem vai correr o risco de ser acusado de preconceito, racismo, autoritarismo, por perseguir os sem-vergonha?

Nem indignação nos resta; é fato consumado. Gozemos.